sábado, 19 de novembro de 2016

TERRA PERFUMADA



Cheira-me a pó de terra vermelha,
A rio forte que corre velozmente,
Cheira-me á florescência da mangueira
A pêra goiaba....... a maçaniqueira 

Cheira-me a chuva diáfana e bondosa
e sinto encostado ao embondeiro
a natureza, o alimentar da minha alma.

Deixem-me ficar assim absorto
Aqui, onde a vida me ofereceu
A terra que viu nascer ,
Tudo o que sou e tudo o que é meu.

TETE- MENINA VAIDOSA



Só gostava de ti
quem contigo vivia,
eras quente, seca,
infante;
mas tinhas um abraço
aconchegante,
um beijo fresco
de água corrente,
quem te visitava, ficava,
esquecia a poeira
o calor ofegante.
Vi-te crescer, airosa
e quando começaste
a ter cada vez mais
roupa vaidosa
tive que te deixar
olhei para trás a lacrimejar

mas nunca mais te esqueci...

domingo, 13 de novembro de 2016

FLAUSINA

A tua cintura fina,
donde a saia caía
das torneadas ancas,
eram um elevo que sorria
nos lábios do complacente,
que esperava que ela
subisse, quando dançavas,
no meio de toda a gente,
onde marcavas presença
pela tua espontaneidade,
dando-te menos, que a tua idade,
o ritmo, tirava-te o sério,
num compasso da melodia.
e se o tempo assim deixasse.
ias... pela noite até ser dia
embalada pelo par que não escolhias

NAMORAR Á JANELA

Janela da rua branca,
orlada de azul celeste,
candeeiro rendilhado
pelas mãos de grão mestre.
Era ele que dava a hora
da nossa aproximação,
quando a luz se atrasava
uma pedrinha no vidro,
a tua voz despertava
a caminho da janela....
onde saboreávamos uma hora
sem sentir a temperatura
do tempo que constava,
palavras de vida futura,
aqueciam o nosso estado
a troca de longos beijos ,
sem conta da gente que passava,
aconchegos silenciosos,
aumentavam nossos sentidos 
que a parede impedia....
alongando a hora sumida..
O quente dos nossos lábios em ardor
obr
igava-nos a despedida…. 
até amanhã meu amor.

GAZETILHA DE VOTO


No papel colorido
autonomamente…..
colocas a cruz em fé,
de dever cumprido.
nesse momento…
transfiguraste-te....
fundiste teu pensamento,
domina-te a promessa
por outra voz repetida,
não cumprida.
Não sabes quem são,
os do papel colorido
apenas ouves o arauto,
anunciando regalias,
benesses, cortes e aumentos,
empregos…..fartura,
que vão dar alegrias
a alguns….
….tu que puseste a cruz
no papel colorido,
não tens nome nem cor,
só contas em numero
da lista do vencedor
e seus aios…..
de quem nunca ouviste falar,
que com vozes adoçantes
te irão, ferozmente , silenciar.

SAUDADE DO GOSTO

Africa é meu tesouro profundo,
que me corre no sangue,
que me reforça alma
quando corro o mundo.
Sentindo que lá ,é que o meu canto,
é la que sinto o gosto
do que por aqui vou comendo,
porque a saudade do sabor
apela em força, gemendo…
Saudades dessa força da natureza:
-Em chuva grossa, 
-Em sol ardente,
-Em floresta de palmeiras
-No embondeiro imponente
-Nas ondas fortes que se espraiam
pelas areias dormentes,
aí fica a minha saudade, dormindo,
até que a cure um dia…a acorde.

LIVRINHO DE AUTOGRAFOS

Esse livrinho precioso,
fechado a cadeado, 
em forma de coração,
cheio de frases profundas
e nomes , apelidos,
amores, frustração...
amigos da infância....
companheiras de carteira...
artistas e cantores.....
desconhecido simpático
de tarde aventureira...
Maior o numero de nomes
que as folhas que o livro tem,
reservada que não fosse,
com sentida emoção,
uma folha só contem
um ilegível autografo.
...apenas pode ser lido
pela tua recordação....

O MEIA SOLAS

O quico escondia-lhe a careca,
protegiam-lhe a camisola
os manguitos de sarja preta.
Não teve escola.
O mestre que o ensinou
de fazer e reparar sapatos 
era seu avô.
O odor á porta
a sebo e a cabedal
deixou de se sentir
na descida da rua torta...
enferrujaram as sovelas,
os diversos protetores,
deixou de se ouvir saudações
e piropos ás... "botas delas",,,
do velho "Meias Solas", sapateiro
restam apenas recordações.

AS FOTOGRAFIAS

Já pouco te lembras 
do teu tempo de menina,
que só as fotografias,
......................imagina
fazem brilhar teu rosto
no reviver dum encontro,
num baile qualquer,
onde dançaste com gosto:
fazem-te sorrir 
do assoprar das velas
dos primeiros aniversários,
do teu crescimento solto
nas mini saias curtas e belas
que a costureira do bairro
talhava á graciosidade 
do teu corpo
Das que não tiveste
de momentos sentidos
na alegria da adolescência
dos namoricos perdidos..
em sitio onde estiver...
.........................Cesceste .
Bela e forte tornas-te ,
senhora da fotografia
fizeste-te mulher.

CRIATURA

Hoje perdeste o tino,
num bar vulgar da cidade.
Numa noitada ruidosa,
foste tudo para todos
os que quiseram
na mortiça luz
escura e assombrosa
deixaste de ser MulheR.

00

MECANOGRAFA

Menina de tez morena
de raízes tropicais,
sorriso branco, rasgado,
lábios cheios, de traços
afro-originais,
irradia simpatia e mais,
no vestido de cor vivas
......................ajustado 
ressaltam a linhas do seu corpo
de feminina identidade, 
silenciam quem olha!
suavizam a máquina, 
no deve e haver,
da sua actividade
lança odores.
perfumosos,
de tanta intensidade
que afagam silenciosos
amores....................

DACTILOGRAFA

Era bonita a pose que impunhas
na arte de dactilografar
poisavas o cigarro, cuidadosamente,
antes que manchasses as unhas.
onde no filtro ,o rouge do teu batom,
dava fundo ao fumo, 
que o cinzeiro não continha
desordenadamente.
A elegância do teu porte,
a suavidade das mãos dactilografando
os seios eretos que, com sorte
não tocavam o teclado, justamente
quando te inclinavas em frente,
com a força do pensamento
escrevendo poemas de amor.
Ficaram por ai em papel branco
com cópia que o químico reproduziu
o tempo tirou-lhe a leitura
e o amarelo tomou conta do branco que fugiu.

MOMENTO ESCRITO

Perderam-se no tempo que nos muda,
nos horários rígidos
que nos afogam.
nas lérias de quem nada faz
encostado á sombra dum papel escrito
por uma universidade qualquer,
nas novelas irreais televisivas.

...os momentos de vida 
que poderíamos ter passado
com o sabor da alma da gente
com o gosto do corpo que sente
no mesmo lugar onde temos estado.

NADA


Ás vezes nada é tudo.
quando nada encerra
tudo aquilo que não te quero dizer,
quando a mancha negra invade o sentimento
quando a palavra se perde sem silabas,
quando a tua face enrubesce
e a tua voz trémula diz que diz tudo.
.... para mim foi nada que é tudo!

A VERDADE ATRASADA

A ambição gananciosa, duns teus filhos,
meu País... fez-te chorar.
desprezou os teus valores civilizadores
de historia humana e secular,
abandonou o rasto trabalhador
da lusa alma lusitana,
encurralou-os no fruto do seu suor,
entregues a ordens desumanas.
Contrariou a vontade democrática
que salivavam em discussões.
assinaram entregas territoriais
a bandos vendedores de ilusões
A história ainda não contou
a descolonização em verdade,
a história ainda não julgou
os culpados de tanta atrocidade.